Hábito de fumar é um risco ainda maior para a saúde em tempos de pandemia

Hábito de fumar é um risco ainda maior para a saúde em tempos de pandemia

Médica Georgia Zattar aponta os malefícios do tabagismo que potencializam os danos da covid-19 no organismo

No Brasil, estima-se que 20 milhões de indivíduos sejam fumantes e pesquisas indicam que esse número pode ter crescido ainda mais durante a pandemia do coronavírus. Nesta segunda (31), é celebrado o Dia Mundial do Combate ao Fumo, data criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conscientizar a população sobre o risco de doenças e mortes relacionadas ao tabagismo.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a dependência em nicotina, presente em produtos à base de tabaco, é reconhecida como uma doença crônica, capaz de causar graves problemas respiratórios, cardíacos e pulmonares, sem contar o desenvolvimento de câncer em vários órgãos do corpo humano. O tabagismo está associado a 90% dos casos de tumores na boca, por exemplo.

Georgia Zattar, médica especialista em performance e longevidade, aponta fatores que influenciaram o aumento do consumo de tabaco durante a pandemia.

“Com as medidas de isolamento social adotadas pelo governo para frear o contágio da covid-19, tivemos aumentos significativos nos índices de ansiedade e depressão. As pessoas ficaram mais apreensivas e inseguras em relação ao emprego, à possibilidade de contrair a doença, preocupadas com a manutenção da renda e com a saúde”, explica.

“Toda essa ansiedade acumulada foi descontada não só no cigarro, mas também na bebida alcoólica, que é uma combinação explosiva – visto que o consumo de álcool favorece o de cigarro.”

De acordo com levantamento da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), os casos de ansiedade aumentaram em 80%. Por consequência, houve crescimento nos casos de compulsão alimentar e também do tabagismo e alcoolismo. Já em estudo realizado em parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), aponta que 34% dos entrevistados que se declararam fumantes passaram a consumir mais cigarros por dia durante a pandemia.

Ela ressalta como o hábito pode ser tão nocivo, principalmente no contexto atual de crise sanitária.

“O tabagismo gera inúmeras consequências para a saúde. Mais de 50 doenças crônicas são causadas pelo consumo de cigarro. Dentre tantas, se destacam as alterações permanentes na estrutura do pulmão, reduzindo nossa capacidade de respirar; ocorrência de infecções respiratórias virais, bacterianas e fúngicas com maior frequência, devido principalmente ao prejuízo ao sistema imunológico e à agressão constante às vias aéreas; desenvolvimento de enfermidades, como tuberculose, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade, osteoporose, catarata, entre outras”, lista a profissional.

Além disso, há fortes evidências de que o tabagismo aumenta tanto a chance de formas graves da covid-19, como também o risco de óbito em indivíduos internados pela doença.

“No geral, os fumantes são mais suscetíveis a desenvolver doenças cardíacas e pulmonares, que estão entre os principais fatores de risco associados à mortalidade pelo novo coronavírus. Dentre elas, destacamos a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)”, acrescenta.
A especialista aconselha quem está tentando parar de fumar, mas que, por algum motivo, não consegue romper com o vício.

“O cigarro causa dependência psicológica e química. No entanto, é necessário ter consciência dos riscos e também dos benefícios de parar de fumar. Quanto antes o paciente interrompe este hábito, menor é o risco de adoecer. Até mesmo para quem fuma há anos, existem benefícios quando há a interrupção”, afirma a médica.

“A dificuldade pode ser maior nos primeiros dias, fase conhecida como abstinência, mas essa sensação tende a se amenizar. O apoio psicológico é muito importante neste período”, aconselha. Os tipos de tratamentos médicos também são inúmeros:

“Eles podem ter abordagem comportamental, com aconselhamento adequado a cada tipo de perfil, ou farmacológica. Atualmente, os medicamentos considerados eficazes são nicotínicos (com liberação lenta de nicotina, tais como gomas de mascar e adesivos) e não-nicotínicos. A escolha do tratamento deve ser feita sempre por um médico especialista”, completa.

Escrito por Dra Georgia Zattar


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