Maturidade exponencial: O poder dos 60+

Maturidade exponencial: O poder dos 60+

Não se pode permitir que a dignidade humana diminua com o passar do tempo. O envelhecimento não é uma jornada separada. É uma continuação”. (Relatório do 6º Fórum Internacional da Longevidade)

 

Os seres humanos estão vivendo mais. O Brasil já não é um país só de jovens, como ainda consta no imaginário popular. “O futuro do Brasil é o envelhecimento”, afirma Karla Giacomin. Segundo projeções do IBGE, hoje no Brasil existem cerca de 30,3 milhões de idosos e seremos 68,1 milhões em 2050. Também em 2050, segundo as mesmas projeções seremos o 6º país mais velho do mundo. Já em 2060 um em cada 4 brasileiros terá mais de 65 anos. Certo é que, apesar de sermos um país com grande predominância da população jovem, é a faixa etária acima dos 60 anos tem crescido de forma exponencial.

Estamos envelhecendo e esta é uma ótima notícia! Uma nova performance demográfica, vem aparecendo e muito em breve mudará o mundo como conhecemos, passando pelas relações sociais, de consumo e até na formulação de políticas públicas. 

Hoje, os maduros não se parecem em nada com os velhos estereótipos, ainda hoje reforçados por aí: pessoas dependentes, debilitadas, isoladas, que vivem doentes e que estão bem longe da tecnologia. Muito pelo contrário, eles e elas estão nas academias, nos aplicativos de relacionamento, nos salões de beleza, nas universidades, empreendendo, investindo e sendo cada vez mais protagonistas das suas próprias vidas.

Ter mais de sessenta anos não é mais sinal dessa velhice estereotipada, mas sim de maturidade. Afinal de contas o ser humano desde que o mundo é mundo, vem buscando viver mais e melhor. Como resultado destes esforços, a humanidade está mesmo envelhecendo. Segundo a ONU, até 2050 haverá mais de 2 bilhões de pessoas com 60 anos ou mais no Planeta Terra. Esse crescimento é avassalador se comparado ao medido em 2017, cerca de 962 milhões pessoas. Em 2050, esse número passará para 2,1 bi – o equivalente a 25% da população mundial.

Nestes últimos anos, muitos países, entenderam a dimensão deste fenômeno, Irlanda, Austrália e Japão já tem colocado os maduros nos seus orçamentos, dado que o crescimento exponencial do número de idosos produzirá impactos sobre os sistemas de saúde, previdência, educação, infraestrutura, mobilidade urbana entre tantos outros.

Temos na economia prateada, que segundo o Oxford Economics, é soma de todas as atividades econômicas associadas às necessidades das pessoas com mais de 50 anos e aos produtos e serviços que elas consomem ou um dia irão consumir, um potencial gigantesco a ser explorado. É uma indústria que movimenta US$ 7,1 tri anuais. Nos Estados Unidos, por exemplo, metade da população entre 52 e 70 anos passa pelo menos 11 horas por semana online.

A pesquisa Tsunami 60+, realizada pelo Hype60+ e pelo Pipe.Social, mostra que no Brasil, o consumidor maduro movimenta cerca de R$1,6 tri/ano, ou seja, 20% do poder de consumo do País. Ainda segundo eles, em 2030, teremos mais idosos do que pessoas com até 14 anos.

Essas mudanças também devem afetar a cara da população brasileira, já que o mundo mais maduro tem predominância feminina. Historicamente homens tem morrido mais cedo do que as mulheres e, em breve, esse índice aumentará ainda mais.

A pandemia do Covid-19, também vem alterando a percepção do mundo sobre o envelhecimento. De invisíveis a protagonistas do debate. Inúmeras mortes acometidas pela doença, sobretudo nas pessoas maduras, vem evidenciando ações de cuidado, proteção, mas também de ageismo (preconceito contra as pessoas idosas).

 

Os maduros brasileiros estão sempre a margem das decisões das empresas, do governo e das próprias famílias. Ainda há muita falta de interesse sobre o assunto no nosso país.Um futuro sustentável precisa incluir os maduros na economia e na sociedade. Entender que a maturidade é uma potência, além de reforçar as liberdades garantidoras da cidadania e a solidariedade geracional, ainda resgata o potencial transformador de uma sociedade mais equânime e inclusiva.

Escrito por: Clarissa Perna 

 

 

Afeto, poesia, diversidade, empreendedorismo e gambiarras. Graduada em direito, com especialização em Gestão Pública, Gestão de projetos, mestranda em Estado, Governo e Políticas Públicas. Atua há mais de 7 anos com políticas públicas relacionadas ao empreendedorismo. Atualmente trabalha como diretora financeira no Instituto Cultural do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.


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